19 de dez. de 2011

Iniciei um gesto íntimo. Passeando as mãos no tapete figurei a silhueta de um corpo inexistente. Por instantes vastos, lembrei a particularidade ímpar do primeiro toque; a gravidade de seu corpo pretérito ainda me enchia de pesar; memórias inventadas, como sempre são. Depois ainda, lamentei  tudo ter acabado antes das primeiras chuvas; por ter chovido tanto, enquanto fora de mim, verão; e do gosto solitário do café quem teimei em tomar misturado à lágrimas, orgulhos. Respiro. E por mais saber que lembrar é mais uma forma de respirar, que de propriamente viver, interrompi a respiração. Fechei os olhos e vi que lá fora o mundo era apenas um ruído buscando a altura daquele quarto. Sorvi o vinho e percebi o corpo que carregava a séculos em meu tato, estava
à minha frente, tão bêbado quanto. Distante igual. E a anatomia tão cuidadosamente guardada em silêncios calara, já não fazia diferença alguma. Estampas no vestido, pétalas de algum lugar mas bem sei: se ela se despisse de tudo, ainda haveriam flores.

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