29 de jan. de 2012

A algazarra sonora dos pássaros escorrera janela adentro. Pela pele, ondulou rítmicas frescuras respirando todo o quarto. Fazia voltas e penetrava a intimidade da cama. Amavam-se ludicamente. Vergonha alguma cobria a nudez ativa do lençol e do vento. Soube secretamente: os objetos, ausentes de nosso peso, cheiro e suor se recolhem numa intimidade em nada grave. Levitam indiferentes a certos nomes, manias que a eles domesticamos. Invejei o amor das coisas. Dei por aprisionar nas celas pulmonares tudo que conseguia inspirar da brisa. Cócegas, mariposas, ou, num golpe de sorte, asas. Arfei. O excesso de ar tirou-me o fôlego. Percebi que uma gravidade gélida se enraizava e tomava a forma contorcida dos pés. Estava par a par com o chão. O vento cessara. Macerei a doçura de outro damasco, sorvi o vinho. Intimamente sabia: era vital respirar novamente. Inspiração.

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