3 de jan. de 2012

Então despertei um evento sutil. Era manhã, e banheiro. Fixei os olhos naquele desentendimento tátil escorrido em minha pele. Estranha forma de vida alojada em meu ombro esquerdo. Rastro luminoso, corpo ligeiramente esférico, cor de minha transparência. A surpresa era uma gota de dia caída do queixo, resquício da manhã deslavada no rosto. Escorri o tempo. A margem ainda era gota, lado sutil onde se liam poros, pêlos, raciocínios. No entanto, uma outra profundidade que eu não via, alcançara um ponto indefinível. Por que de seu caráter estranho, exótico, fui bem capaz de imaginá-la inseto, um sexto sentido apregoado à pele da existência, sonho. Menos gota. E menos ainda por não ser fria. Tinha em seu temperamento físico a mesma temperatura de minha tez. Lembro de alguém (Bachelard, Duchamp, Manoel de Barros?) ter dito que quando enxergamos de fato um objeto, o vemos pra além de seu nome, de sua função e o refletimos numa espécie de espelho nulo, sem eu, nem mundo. Princípio de linguagem... quiçá. Despertei a manhã? Despertei o amanhã? Talvez fosse lágrima. Aquela gotícula de água, de inseto, de vida, era minha irmã.

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